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CriadoMudo
 
sexta-feira, maio 21, 2004  
Estou com preguiça de desenvolver, mas acho ótima essa carta-bronca do Caio F. a um amigo, depois de receber uma carta mal-criada falando sobre seu ar blasé 'dentroutras' coisas. Aí vão trechos da carta, que foi dividida em tópicos:

1o - fui injusto - um pouco - ou excessivo com você. Ma non troppo.
Como te disse, voltei a SP ano passado, após dez meses de ausência, sem trabalho, sem casa sem nada. Discretamente enviei sinal de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais. (...) Não me lamuriei. Mas preciso que as pessoas saibam que isso doeu - exatamente porque algumas destas pessoas, como você importam para mim.

2o - Cheguei em Paris preocupado com a minha violência (...). Pedi desculpas com doçura.

3o - Você me responde duramente. Escuta:

4o - "Ar blasé" - não sei o que significa isso. Certa vez num grupo de psicanálise (fiz 14 anos, ganhei duas altas: acho que lido mais ou menos bem com meus demônios) uma garota disse que eu era "altivo". Achei chique. Talvez você queira dizer "ar aristocrático"? (...) Sou terrivelmente tímido e, na verdade, acho que tenho mais é um ar de cachorro surrado, daquele que levou muita porrada, passou fome, dormiu ao relento.

5o - Eu "não resisto a uma baixaria bem brega"! Resisto sim. Tenho um passado hippie que me deixou muitas coisas boas. Estou sempre preocupado com a ética, com a beleza, com a dignidade. Sou educadíssimo, e fui criado de maneira muito católica, com toda aquela culpa de 'maus' pensamentos, 'más' ações, e uma terrível nostalgia da 'bondade' (...). Gosto de pessoas doces, gosto de situações claras - e por tudo isso, ando cada vez mais só. É como me sinto melhor.

6o - (...) "Si tout le monde était comme moi, je n`aurais pas besoin de detester les autres!"

7o - Amigos não "são para essas coisas", não. Isso é um clichê detestável, significando quase sempre que amigo é saco de pancadas, é uma espécie de privada onde o outro pode jogar dejetos, detritos imundos e dar descarga. Amigos são para dividir o bem e o mal, mas também para deixarem as coisas sempre limpas entre eles - amigos devem ser solidários.
(...)
É por isso que te escrevo, quase meio-dia, um sol raro lá fora. Guila, não me mande coisas assim raivosas. Eu não tenho anticorpos para esse tipo de coisa. Até hoje, um dos meus truques para sobreviver, mesmo não sendo mulher e nem sequer tendo cabelos, foi fazer o papel de 'loura burra'. Deixei passar muita agressividade, muita humilhação - mas estou farto. (...) Não agüento mais desaforo, e vou ficar pior, vou ficar, se Deus quiser, como Odete Lara, Greta Garbo, Fauzi Arap (...).

Não consigo terminá-la. Essa foi uma das cartas mais bonitas! Vou passá-la para o computador e repassá-la. Deveria virar corrente, sabe? Daquelas que se vc não repassar terá 20 anos de azar. :)

12:56

 
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